

sobre o III FATPNe:








Entre os dias 05 a 08 de abril 2025, a cidade de Aracaju receberá o III Fórum de Assessoria Técnica Popular do Nordeste: Tecendo redes de luta com os povos das águas, dos campos e das cidades, tendo como perspectiva reunir diferentes sujeitos relacionados com as lutas por terra, moradia e justiça ambiental, para discutir, refletir e propor uma agenda voltada às demandas
emergentes nos territórios. Este fórum é um espaço essencial para a construção de estratégias e metodologias que respondam às necessidades urgentes e específicas das comunidades vulnerabilizadas, especialmente em um contexto de crescentes desafios sociais, ambientais e econômicos.
Sergipe, nosso Estado anfitrião, é um exemplo claro de como os limites entre o campo e a cidade se entrelaçam, e de como os atravessamentos estão postos para ambos os cenários. Demarcado como uma das novas fronteiras de exploração do petróleo e gás, com a implementação do Projeto
Sergipe Águas Profundas, o território também tem enfrentado desafios de projetos já instituídos, como a construção de parque eólicos, usinas termoeletrica, e do retalhamento e segregação do solo urbano com a construção de condomínios de luxo. Tudo isso concentrado na Região
Metropolitana de Aracaju, em aproximadamente 92 mil km2. O setor energético e a especulação imobiliária têm promovido novos processos de urbanização, além de avançar a exploração econômica em territórios já urbanizados, sem que sejam respeitados os modos de produção da
vida da população que ali já habitava. Por outro lado, a carcinicultura tem avançado sob os manguezais e apicuns das zonas rurais, fechando portos e acessos entre as comunidades locais, contaminando e matando a vida das águas, solos e das populações tradicionais.
Estes processos que impactam a vida dos povos tradicionais e populares, instituem no Estado de Sergipe um novo ciclo de desenvolvimento, impondo a necessidade pela defesa e conquista da terra como forma de assegurar direitos que já são garantidos à essas populações. Com a implantação de políticas sociais e urbanas que desconsideram suas realidades, os povos das
águas e dos campos têm enfrentado a intensificação das vulnerabilidades vividas. Um verdadeiro cenário de desmonte de direitos, pondo em cheque o seu bem viver e os seus modos de reprodução da vida. É nesse sentido que entendemos esses processos como "projetos de morte", pois se situam tão somente ao lado de interesses do capital e da exploração econômica dos 2
recursos naturais, sem considerar a relação anterior que esses povos possuem com esses territórios. As lutas dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCT’s) e dos movimentos sociais por justiça ambiental em Sergipe, se destacam pela resistência a este "projeto de morte" capitalista, e pelo enfrentamento aos grandes empreendimentos que ameaçam suas terras e modos de vida.
Essas comunidades são fundamentais na construção de alternativas metodológicas populares e na aplicação de técnicas ancestrais, baseadas na natureza, na defesa de seus "projetos de vida".
A interferência de eventos climáticos extremos no cotidiano das PCT’s e das cidades de Sergipe torna urgente a necessidade de respostas eficazes e adaptativas. A apreensão pelo futuro, marcada pela emergência climática, demanda uma abordagem interdisciplinar que abranja a diversidade e demandas dos territórios tradicionais e populares, que têm enfrentado uma expropriação de seus recursos, saberes e cultura, em detrimento de um desenvolvimento marcado pela violência, produção da pobreza e de acentuação das vulnerabilidades. A presença de diversos grupos interdisciplinares no Estado, que atuam tanto nos campos quanto nas cidades, reforça a importância da assessoria técnica popular, integrando conhecimentos de diferentes áreas para enfrentar esses desafios.
O Fórum será um espaço fundamental para a democratização de metodologias, ferramentas, instrumentos técnicos e populares que desafiam as formas hegemônicas de concepção e produção do espaço e de construção de sociabilidades. A interdisciplinaridade será um eixo central das discussões, abordando a diversidade de demandas e territórios, principalmente diante da emergência climática. Além disso, o Fórum destaca a necessidade de refletir sobre a organização profissional que incorpore efetivamente outras áreas do conhecimento, aborde a questão ambiental e o enfrentamento a eventos climáticos extremos, e garanta, através de políticas
públicas, a manutenção das assessorias que atuam nos territórios.
O III Fórum de Assessoria Técnica Popular do Nordeste será, portanto, um momento crucial para fortalecer a luta por terra, moradia e justiça ambiental, reafirmando o papel fundamental das comunidades e dos movimentos sociais na construção de um futuro sustentável e equitativo.
eixos temáticos:



Eixo 1 – Formas de resistência dos territórios populares às mudanças climáticas e aos grandes empreendimentos
Busca-se reconhecer experiências de territórios tradicionais e populares, já desenvolvidas ou em construção, frente aos impactos da crise climática, dos grandes empreendimentos ou das iniciativas de exploração e financeirização da terra e dos recursos naturais. Tais iniciativas, que incluem as formas de resistência e os modos de vida e subsistência dessas comunidades, reunidas em acúmulo, podem trazer pistas para a elaboração de estratégias de mitigação a partir do povo e para o povo.
Eixo 2 – Tecnologias sociais enquanto instrumentos de apropriação dos territórios
Busca-se evidenciar e democratizar tecnologias sociais e metodologias populares na construção de sociabilidades e que desafiam formas hegemônicas de concepção e produção do espaço, com ênfase em processos de autogestão e autoprodução, transição energética popular, comunicação e mobilizações comunitárias, pautadas na defesa e garantia dos direitos e por uma adaptação climática justa. Interessa abranger experiências em contextos distintos e em múltiplas escalas, criando possibilidades de refletir, interagir, interpelar e transformar a realidade das comunidades envolvidas.
Eixo 3 – O lugar dos movimentos sociais e das assessorias técnicas populares na construção de políticas públicas
Pretende-se provocar a formulação de uma agenda propositiva, a partir das contribuições dos movimentos sociais e das assessorias técnicas, na construção, ajuste e implementação de políticas públicas, pautadas numa atuação conjunta que articula conhecimentos técnicos e populares, reforçando um compromisso com a inclusão social e a democratização da sociedade. Inclui a criação de redes colaborativas, processos de capacitação e a mobilização de novas tecnologias e ferramentas, ressaltando a participação e o controle social como direitos previstos no arcabouço legislativo brasileiro e em tratados internacionais.